♡ Kirsten/Sofia ♡

by - 14:24


 Ultimamente eu tenho pensando muito em um filme que vi um tempo atrás e de primeira não gostei muito não, mas agora percebo que se tornou um dos meus favoritos. Acontece bastante comigo isso, e tenho certeza que já deve ter acontecido com você. O filme? As Virgens Suicidas. É um filme que poucos amigos meus assistiram, mas entre eles há uma certa repulsa do público masculino. E acho que isso me incomodou muito, mas muito mesmo. E não só esse, como também Maria Antonieta recebe muitas críticas por aí, mais de homens que de mulheres. Ambos são dirigidos por Sofia Coppola e com a atuação da linda Kirsten Dunst. Então, ontem eu discuti sobre isso tudo com um amigo meu e pensei em fazer uma postagem sobre isso, porque achei interessante.

Maria Antonieta



 Todo filme é ficção, por mais "baseado em fatos reais" que ele seja. Excluindo documentários, obviamente, nenhum filme é 200% fiel à história. Então é óbvio que Maria Antonieta iria fugir um pouco da real história da rainha da França, mesmo que sem querer. E eu já ouvi professor de história reclamar desse filme por não ser muito "real/fiel". E daí? Claro que tem o problema de diferenciar o que aconteceu mesmo e o que é realmente invenção. Mas acho que esse não é o ponto da Sofia. Ela mostra o ponto de vista feminino em seus filmes.


"Que comam brioche!". Imagino que qualquer um que estivesse morrendo de fome naquela época da França iria querer matar sua rainha depois de ouvir a tal famosa frase. Não os culpo, eu faria o mesmo. A História nos apresenta Maria Antonieta como uma vilã, uma mulher horrível que não se importava com o próprio povo, que absurdo! Mas Sofia Coppola teve a ideia de tentar mostrar, no ponto de vista dela, o que foi ser Maria Antonieta, a austríaca rainha da França.


 Imagine chegar aos 14 anos e ser forçada a casar com um desconhecido. Parece bem ruim, não é? Agora vamos piorar (porque sempre dá), que para se casar com esse fulano você vai ter que mudar de país, sem nenhum amigo ou família, todos vão ficar no seu país de origem. Tudo isso parece extremamente absurdo e mesmo que fosse comum na época, deveria ser mesmo para a princesa da Áustria. De um dia para o outro ela estava casada com um homem que mal suporta tocá-la, "governando" um povo que não vai com a cara dela e vivendo com uma corte fofoqueira e pouco amigável ... ela tinha apenas 14 e estava completamente sozinha. Cercada do luxo, comida e bailes, mas extremamente sozinha. No filme, mostra como ela tenta se aproximar do marido, como uma tentativa de fazer a vida ficar tão boa quanto um conto de fadas. O herdeiro do trono francês e a princesa austríaca se casam e vivem felizes para sempre. Mas não foi nada disso.


 Acho que não é nenhum segredo aqui que rainhas não governavam. Com algumas exceções, é claro. Na maior parte das vezes, a rainha era só uma figura e a política quem fazia mesmo, era o rei, a única função da rainha era gerar herdeiros. Não foi diferente para Maria Antonieta, além de ter uma péssima relação com o marido, ela demora sete anos para finalmente ter um filho (imaginem a pressão e as fofocas que ela sofria). A inocência e desilusão de uma vida de contos de fadas parecem levar a personagem à uma aparente depressão, a qual faz ela se afundar na decadência da nobreza. A desilusão do amor e de uma vida feliz, a levam a se importar somente com suas festas, roupas e amantes. O seu caso com o Conde Fersen mostra ser o mais perto do amor que ela chega. E não que se importar com roupas fosse ruim, afinal ela é hoje um ícone da moda, mas foi uma escapatória para ela de uma vida infeliz.


 Maria Antonieta não foi criada para governar, só para ser a esposa daquele que governa, ela mal sabia da situação do povo francês. Dentro de um palácio cercado pela luxúria e fofocas, sem amigos, se torna mãe por obrigação e não amor, sofre pressão da própria mãe para manter os interesses austríacos a frente de qualquer coisa. Não que a vida dela fosse pior que a de qualquer um francês morrendo de fome, mas ela também era humana e sua vida não foi lá um mar de rosas. E é por isso que amo tanto esse filme.



As Virgens Suicidas



 Vendo assim, a família Lisbon parece ser normal e feliz. Mas como o próprio título diz, essa história não terá um final feliz e presume-se que todas as cinco filhas vão se matar. É isso mesmo. "Mimimi, mas por que eu vou ver um filme que eu já sei o final mimimi" de primeira também pensei assim. Mas o ponto do filme não é o final, é o que vem antes dele. O que leva cinco garotas lindas e jovens a se matarem? Mesmo com uma vida bem perto do normal, isso não faz sentido para ninguém da cidadezinha típica americana em que vivem.

"Cecilia was the first to go"


  O que uma garotinha normal de 13 anos pode entender da vida? É uma coisa que escutamos muito por aí. Ou pior, se mata por atenção. As irmãs Lisbon eram jovens, mas aprisionadas em casa, semi-normais dentro de uma jaula vendo a juventude passar. O que essas garotas podem saber da vida? Muita coisa, elas não tem nada para fazer além de pensar e imaginar. Imaginar a liberdade que tanto sonham e suas vidas do jeito que querem. Nada diferente até então de qualquer adolescente. O que levou então Cecilia, a mais nova, a se matar?


 Depois de um ano do suicídio de Cecilia, as quatro irmãs seguem a vida normalmente. Chega o baile da escola e elas convencem seus pais a darem esse único dia para aproveitarem uma mísera liberdade, com condições é claro. Ao chegar o dia, elas estão vestidas muito parecidas. Eu vejo isso como uma forma da mãe delas tirar a individualidade de cada uma, ver elas apenas como uma coisa só, chamada de filhas, e não como garotas, seres humanos, indivíduos.


 O filme mostra muito o que é ser uma garota na adolescência. É quase que um Alice no País das Maravilhas mais explícito, trágico e contemporâneo. Com pais religiosos, são reprimidas por serem garotas, não podendo sair e o contato com homens é quase nulo. A simplicidade e falta de liberdade da vida delas é um tédio. A vida dela é um tédio, repito quantas vezes for necessário. Mesmo que Cecilia foi a primeira a ir embora, eu vejo a Lux como a mais deprimida de todas. Ela dá, dá muito, mas muito mesmo e pra qualquer um. O sexo para Lux (sendo então a única irmã que não é virgem) é uma forma de combate à depressão e tédio da vida que elas levam, ela é extremamente autodestrutiva. 


 As Virgens Suicidas é como pegar os poetas do Mal do Século (Lord Byron, Álvares de Azevedo, etc) e transformar toda aquela arte para o mundo feminino. A vida é um tédio, estão presas a ela e a morte é a única saída. Elas consideram a morte a única saída para a vida que levam. A morte se torna cada vez mais bonita aos olhos das irmãs Lisbon. O livro em que o filme foi baseado, leva em conta uma teoria de que se um familiar se mata, influencia aos parentes a cometerem suicídio também. Mesmo que tenha levado mais de um ano para isso acontecer, elas se matam bem no dia que podem conseguir sua liberdade de outra forma além da morte. E o mais irônico: Lux, a pior de todas (ao meu ver), é a última a morrer. A vida delas não era ruim, mas do jeito que elas enxergavam, viver era péssimo. E o que eu mais achei legal é que os meninos que narram a história se encantam com elas, em como elas parecem estar bem, mas não estão. A trágica história das irmãs suicidas Lisbon se torna uma obsessão. É uma forma de mostrar a visão masculina se entrasse dentro da mente feminina.


 Espero que tenham gostado.

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1 comentários

  1. Adorei o post, eu já tinha assistido Maria Antonieta, mas As Virgens Suicidas não então já está na minha lista para assistir o quanto antes.



    quemtemcerteza.blogspot.com.br

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